14 de jun. de 2024
Mulheres na Ciência
- Ronaldo Rogerio Pedrão
- 29 de set. de 2017
- 10 min de leitura
Atualizado: 27 de mar. de 2021
O Livro "As 100 Maiores Personalidades da História" (para o bem ou para o mal), de Michael H. Hart, lista apenas duas mulheres, as Rainhas Vitoria I e Elisabeth I e faz uma 'menção honrosa' a Marie Curie, ao lado de Leonardo da Vinci e Arquimedes. Há mais de 3400, na Grécia, o mundo foi matriarcal, ou seja, liderado pelas mulheres. Foi a última vez. Depois disso, as sociedades ditas civilizadas foram controladas pelos homens. Mesmo no nascimento da democracia, em Atenas, as mulheres foram preteridas. A democracia beneficiava todos os cidadãos. Mas os cidadãos eram apenas homens, chefes de família e nascidos em Atenas. Com tantas civilizações dominadas pelos homens, as mulheres foram sufocadas. No entanto, isso aumenta ainda mais o brilho daquelas que conseguiram se destacar. Algumas fizeram grandes descobertas e superaram os homens, como a que descobriu a composição do Sol e outra que ganhou dois Prêmios Nobel em áreas diferentes.
Hipátia (351 - 415)

Hipátia ou Hipácia (Alexandria, 351 ou 370 – Alexandria, 8 de Março de 415) foi uma neoplatonista grega e filósofa do Egito Romano, a primeira mulher documentada como sendo Matemática. Como chefe da escola platônica em Alexandria, também lecionou Filosofia e Astronomia.
Filha de Téon de Alexandria, um renomado filósofo, astrônomo, matemático, autor de diversas obras e professor em Alexandria. Criada em um ambiente de ideias e filosofia, tinha uma forte ligação com o pai, que lhe transmitiu, além de conhecimentos, a forte paixão pela busca de respostas para o desconhecido.
Hipátia estudou na Academia de Alexandria, onde devorava conhecimento: Matemática, Astronomia, Filosofia, religião, poesia e artes. A oratória e a retórica também não foram descuidadas.
Através de cartas trocadas com um de seus alunos, o notável filósofo e bispo Sinésio de Cirene (370-413), sabemos que Hipátia desenvolveu alguns instrumentos usados na Física e na Astronomia, entre os quais o hidrômetro.
Sabemos também que desenvolveu estudos sobre a Álgebra de Diofanto ("Sobre o Cânon Astronômico de Diofanto"), tendo escrito um tratado sobre o assunto, além de comentários sobre os matemáticos clássicos, incluindo Ptolomeu. Em parceria com o pai, escreveu um tratado sobre Euclides. Ficou famosa por ser uma grande solucionadora de problemas.
Morte
O seu fim trágico se desenhou a partir de 412, quando Cirilo foi nomeado Patriarca de Alexandria, título de dignidade eclesiástica, usado em Constantinopla, Jerusalém e Alexandria. Ele era um cristão fervoroso, que lutou toda a vida defendendo a ortodoxia da Igreja e combatendo as heresias, sobretudo o Nestorianismo, que negava a Divindade de Jesus Cristo e a Maternidade Divina de Maria.
De acordo com o relato de Sócrates, o Escolástico, numa tarde de Março de 415, quando regressava do Museu, Hipátia foi atacada em plena rua por uma turba de cristãos enfurecidos depois de ser acusada de exacerbar um conflito entre duas figuras proeminentes em Alexandria: Cirilo e o governador Orestes.
Ela foi arrastada pelas ruas da cidade até uma igreja, onde foi esfolada e cruelmente torturada até a morte. Depois de morta, o corpo foi lançado a uma fogueira.
Segundo o mesmo historiador, tudo isto aconteceu pouco tempo depois de Orestes, prefeito da cidade, ter ordenado a execução de um monge cristão chamado Amónio, ato que enfureceu o bispo Cirilo e seus correligionários. Devido à influência política que Hipátia exercia sobre o prefeito, é bastante provável que os fiéis de Cirilo a tivessem escolhido como uma espécie de alvo de retaliação para vingar a morte do monge.
Porém existe grande controvérsia sobre os motivos e detalhes de sua morte. As últimas pesquisas creem que o homicídio de Hipátia resultou do conflito de duas facções cristãs: uma mais moderada, ao lado de Orestes, e outra mais rígida, seguidora de Cirilo, responsável pelo ataque.

Caroline Herschel (1750-1848)
Nascida em 1750 em Hannover, Alemanha. Matemática e astrônoma autodidata. Mudou-se para Inglaterra aos 22 anos como ajudante de seu irmão William Herschel descobridor do planeta Urano em 1781 realizou os cálculos matemáticos e observações astronômicas.
Em 1786 Caroline tinha um pequeno observatório próprio e dedicou-se a busca de cometas e nebulosas. Foi a primeira mulher a descobrir um cometa, que foi conhecido como “o primeiro cometa feminino”. Detectou 8 cometas no total.
Foi a primeira astrônoma profissional da corte e o rei Jorge III lhe outorgou um salário anual como ajudante de seu irmão, o que lhe permitiu independência econômica. Realizou um índice dos trabalhos do astrônomo real Johan Flamsteed (1646-1719), e preparou os 8 volumes do livro de seu irmão.
Ela começou a fazer suas próprias observações em 1782 nas suas horas de lazer, com uma telescópio newtoniano de lente de 690 mm. Com esse equipamento, ela detectou vários objetos astronômicos, entre os anos de 1783 e 1787, o que incluem as descobertas da M110 (NGC 205). Entre 1786 e 1797, ela descobriu oito cometas - o primeiro em 1º de agosto de 1786. Em cinco dessas descobertas, ela foi considerada a principal responsável. Em 1878, ela ganhava um salário anual de £50 (o equivalente a £5400 em 2014) de George III por seu trabalho como assistente de William.
Em 1797, William descobriu discrepâncias no catálogo estelar de John Flamsteed. Ele propôs que um index melhor seria necessário e recomendou que Caroline assumisse a tarefa. O Catálogo Estelar resultante foi publicado pela Royal Society em 1798, e continha uma catálogo de todas observações feitas por Flamsteed, uma lista de errata e mais uma lista de outras 560 estrelas que não haviam sido incluídas.
Quando William morreu, em 1822, Caroline voltou a Hannover, continuando com suas observações, verificando as descobertas feitas por William e produzindo um catálogo de nebulosas para ajudar o seu sobrinho, John Herschel, em seu trabalho.
Publicou o “Catálogo de 1500 Nebulosas descobertas pelos Herschel”, pelo qual recebeu uma medalha de ouro da Sociedade Astrônomica Royal em 1828. Nenhuma outra mulher ganhou o prêmio até 1996, quando Vera Rubin foi laureada.
Anos mais tarde, essa sociedade a nomeou Membro Honorário junto com Mary Somerville, sendo as primeiras mulheres a receber este titulo. Em 1846 o rei Federico Guillermo IV da Prussia, outorgou-lhe a medalha de ouro de ciências.
Ela trabalhou durante 50 anos à sombra de seu irmão mais velho, e deixou escrito, com humildade, que foi treinada para ser assistente, não astrônoma.
Caroline morreu em Hannover em 1848, aos 97 anos e, por suas observações, foi gravada como a mulher que mais contribuiu para o avanço da astronomia.
Marie Curie (Maria Sklodowska) (1867-1934)

Foi a primeira mulher a ser admitida como professora na Universidade de Paris. Em 1995, a cientista se tornou a primeira mulher a ser enterrada por méritos próprios no Panteão de Paris. Nascida Maria Salomea Skłodowska em Varsóvia, no então Reino da Polônia, parte do Império Russo. Estudou na Universidade Floating, em Varsóvia, onde começou seu treino científico.
Em 1891, aos 24 anos, seguiu sua irmã mais velha, Bronislawa, para estudar em Paris, cidade na qual conquistou seus diplomas e desenvolveu seu futuro trabalho científico.
As conquistas de Marie incluem a teoria da radioatividade (termo que ela mesma cunhou), técnicas para isolar isótopos radioativos e a descoberta de dois elementos, o polônio e o rádio.
Sob a direção dela foram conduzidos os primeiros estudos sobre o tratamento de neoplasmas com o uso de isótopos radioativos.
A cientista fundou os Institutos Curie em Paris e Varsóvia, que até hoje são grandes centros de pesquisa médica. Durante a Primeira Guerra Mundial, fundou os primeiros centros militares no campo da radioatividade.
Foi a única pessoa a ganhar dois prêmios Nobel. Em 1903 ganhou o prêmio Nobel de física junto com seu marido Pierre Curie e Antoine Henri Becquerel. Em 1911 ganhou o Nobel de Química.
Sua filha mais velha e o marido Jean Frédéric Joliot dividiram um Nobel em 1935. A segunda filha tornou-se música e autora de renome.
O elemento 96 da tabela periódica, o Cúrio (Cm) foi batizado em honra do Casal Curie.
Leavitt, Cannon e Payne
No início da décad de 1900, Harvard era um mundo masculino. Mas um astrônomo chamado Edward Charles Pickering violou essa regra. Ele montou uma equipe formada apenas por de mulheres para mapear e classificar os tipos de estrelas através de seu espectro (ver no fim do texto). Uma delas forneceu a chave para nossa compreensão da matéria das estrelas. Outra descobriu uma forma de calcular o tamanho do universo.

Henrietta Swan Leavitt (1868-1921)
Leavitt descobriu a lei que astrônomos ainda usam hoje, um século mais tarde, para medir a distância das estrelas e o tamanho do próprio cosmo. Em 1893 ela entrou para o Harvard College Observatory como voluntária. Seu trabalho consistia em medir e catalogar o brilho de estrelas da coleção de chapas fotográficas do observatório (nesta época não era permitido a mulheres operar telescópios). Ela descobriu e catalogou 1777 estrelas variáveis situadas nas Nuvens de Magalhães. Em 1908, publicou seus resultados nos Annals of the Astronomical Observatory of Harvard College, percebendo que algumas destas estrelas variáveis apresentavam um padrão: as mais brilhantes oscilavam com períodos maiores.
Depois de estudos mais detalhados, em 1912 confirmou, a partir de seu catálogo, que a luminosidade das variáveis cefeidas era proporcional ao seu período de variação de luminosidade, e que essa relação era bastante precisa, o que mostra que há uma relação simples entre os brilhos das variáveis e seus períodos". A relação período-luminosidade para cefeidas fez delas as primeiras "velas-padrão" em astronomia, permitindo a determinação das distâncias de galáxias.
Apenas um ano depois de Leavitt publicar seus resultados, Ejnar Hertzsprung determinou as distâncias de várias estrelas cefeidas na Via Láctea, e com essa calibração a distância de qualquer cefeida poderia ser determinada com bastante precisão.
As conquistas do astrônomo americano Edwin Hubble, só foram possíveis depois dos trabalhos de Leavitt. O próprio Hubble dizia, frequentemente, que Henrietta Leavitt merecia ganhar o prêmio Nobel por seu trabalho sobre as estrelas variáveis. Gösta Mittag-Leffler, da Academia Sueca de Ciências, tentou indicá-la para o prêmio Nobel em 1924, quando descobriu que ela havia morrido de câncer três anos antes (o prêmio Nobel não é dado postumamente).
Annie Jump Cannon (1863-1941)

Annie Jump Cannon perdeu a audição devido a uma febre escarlatina quando era jovem. Cannon e sua equipe passaram décadas classificando o espectro de centenas de milhares de estrelas segundo um esquema que ela mesma inventou. Ela descobriu que as estrelas entravam em uma sequência contínua de sete categorias gerais, de acordo com o padrão das linhas em seu espectro. Cada categoria foi designada por uma letra, "O-B-A-F-G-K-M". Mas as linhas do espectro de duas estrelas da mesma classe de letras podiam diferir de formas sutis em variações minúsculas que Cannon aprendeu a reconhecer de cabeça. Para distinguir esses espectros, ela criou dez subcategorias numéricas para cada classe.
Cannon organizou as estrelas, mas caberia a outra cientista decifrar o significado oculto de seu trabalho.
Cecilia Helena Payne-Gaposchkin (1900-1979)

Na Inglaterra de 1923, as mulheres não podiam obter diplomas avançados em Ciências. Mas Cecilia Payne assistiu a uma palestra em Londres do astrônomo Sir Arthur Eddington o primeiro cientista a fornecer evidências de que a revolucionária Teoria da Relatividade, de Einstein, estava correta. Daquele momento em diante, ela soube que nada a impediria de buscar seu grande sonho. Ela resolveu emigrar para os EUA onde as mulheres já tinham conquistado a liberdade de estudar as estrelas. Seu pedido de inscrição foi aceito pela Harvard. O que ela descobriria lá, desafiaria um dos princípios centrais da astronomia. O impacto resultante seria o nascimento da astrofísica moderna.
Mais uma mulher se uniu a essa comunidade feminina. Cecilia Payne nunca tinha sido tratada com tanta gentileza no meio científico anteriormente. Essa irmandade generosamente compartilhava suas pesquisas com ela e ela transformou as observações delas em uma nova noção sobre as estrelas.
As duas mulheres se tornaram grandes amigas. Cannon ensinou Payne tudo o que tinha aprendido sobre o espectro estelar. E Payne começou a analisar os dados de Cannon para ver se poderia determinar a verdadeira composição química e o estado físico das estrelas. Ela contribuiu com seu conhecimento em física teórica e atômica.
As características mais salientes do espectro das estrelas mostravam a presença de elementos pesados, como o cálcio e o ferro, que estão entre os elementos mais abundantes da Terra. Então, os astrônomos naturalmente concluíram que as estrelas eram feitas dos mesmos elementos que a Terra, aproximadamente na mesma proporção.
Em 1924, Henry Norris Russell era o decano dos astrônomos americanos tendo feito uma imensa contribuição para nosso entendimento das estrelas.
“Há entre 40 a 45 elementos químicos que encontramos aqui na Terra e que também estão presentes no espectro do Sol. Então, podemos concluir que a composição do Sol assemelha-se à da Terra. Se algo fosse aquecer a crosta da Terra até se tornar incandescente o espectro se pareceria com o do Sol.” (Russel).
Payne calculou como o espectro deveria apresentar-se através de uma grande variação de temperatura e isso condizia perfeitamente com sistema de classificação de Cannon, o espectro de qualquer estrela indica exatamente qual é sua temperatura. O "O-B-A-F-G-K-M" é uma escala da temperatura das estrelas da mais quente para a mais fria.
Graças ao trabalho de Cannon, Payne descobriu que as estrelas são compostas quase que inteiramente por hidrogênio e hélio. Há um milhão de vezes mais hidrogênio e hélio do que metais nas estrelas. Payne escreveu uma tese de doutorado com suas descobertas (Stellar Atmospheres, A Contribution to the Observational Study of High Temperature in the Reversing Layers of Stars) e a enviou ao Professor Russell.
Russell sentiu pena de Cecilia Payne. Ele tinha a impressão de que sua tese possuía uma falha fundamental. Claramente, é impossível que o hidrogênio seja um milhão de vezes mais abundante do que os metais. As evidências cuidadosamente reunidas por ela iam contra princípios científicos convencionais.
"Como posso estar certa", ela perguntava ..."se isso necessariamente implicaria que um cientista tão reputado estivesse errado?" Apesar da confiança que ela tinha na qualidade de sua pesquisa ela se rendeu e acrescentou uma frase à tese que prejudicava sua maior ideia. São improvavelmente altos e certamente quase irreais. Somente quatro anos depois, Russell percebeu que Payne estava certa.
Para sermos justos, assim que percebeu, Russel reconheceu que fora uma descoberta dela. "Atmosferas Estelares", de Payne, é geralmente considerada a tese de doutorado mais brilhante já escrita sobre astronomia. Tornou-se o texto padrão na área.
“Eu fui culpada por não insistir no meu argumento. Eu cedi à autoridade quando acreditava que estava certa. Se você tem certeza dos fatos, deve defender sua posição.”
As palavras dos poderosos talvez prevaleçam em outras esferas da experiência humana mas, na ciência, a única coisa que conta é a evidência e a lógica do próprio argumento.
Peggy A. Whitson (09-02-1960)
Faz parte, atualmente, da Expedição 50/51, sua terceira missão de longa duração na Estação Espacial Internacional. Whitson e seus companheiros de tripulação, o cosmonauta Oleg Novitskiy e o astronauta da ESA, Thomas Pesquet decolaram em 17 de novembro de 2016. Nativa de Iowa, completou dois turnos de seis meses de serviço a bordo da estação durante a expedição número 5 em 2002 e como comandante da estação durante a expedição 16 em 2008. Ela acumulou 377 dias no espaço, somando-se as duas missões, ela é a americana que mais permaneceu mais tempo espaço. Whitson também realizou seis caminhadas espaciais, totalizando 39 horas e 46 minutos.
Nascida em 9 de fevereiro de 1960, em Beaconsfield, Iowa. Graduou-se na escola secundária Mt. Ayr Community em 1978, Bacharel em Ciências Bioquímicas na Iowa Wesleyan College em 1981 e um Doutorado em Bioquímica pela Universidade Rice em 1985. De 1981 a 1985, a Dra. Whitson conduziu o seu trabalho de pós-graduação em Bioquímica na Universidade Rice. Após a conclusão, ela continuou na Universidade Rice até outubro de 1986.
Espectro


A luz de uma estrela é recebida através de um prisma posicionado no telescópio e dividida em uma faixa que mostra suas cores, como o arco-íris. Os raios vermelhos em uma extremidade e os violetas em outra. Este é o espectro da estrela.
A luz é separada em várias cores e, entre as cores há linhas escuras ou mais brilhantes da mesma cor onde elas se localizam. Essas linhas formam algo parecido com um ‘código de barras’, mas com muito mais linhas. A posição de uma linha ou de um grupo, revela quais elementos químicos estão presentes na estrela (ou em seu caminho até nós). Queimando substâncias químicas em laboratórios, aqui na Terra, podemos obter as mesmas linhas e comparar sua espessura e posição no espectro.
Bibliografia e Referências
https://pt.wikipedia.org/wiki/Marie_Curie https://pt.wikipedia.org/wiki/Henrietta_Swan_Leavitt
Série Cosmos 2004
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