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Eclipse cerebral

Ensinar e divulgar Astronomia é uma atividade extremamente prazerosa e, ao mesmo tempo, inglória. Não bastasse a falta de divulgação e incentivo, há ainda aqueles que apoderam-se dos conhecimentos adquiridos pelos cientistas às custas de tanta dificuldade, para obter lucro ou promoção pessoal.

 

Inúmeras descobertas científicas foram usurpadas e deturpadas por indivíduos com o intuito de destacar-se na sociedade ou para enganar aqueles que não possuem conhecimento científico.

 

Além disso, há uma enorme ignorância cientifica. Parece exagero nosso, mas há pessoas que não sabem sequer diferenciar as fases da Lua. Uma pesquisa recente revela que o número de brasileiros analfabetos totais e funcionais no Brasil chega a 75%.

 

Certamente, o número de “analfabetos” em Ciência, é ainda maior. O fato fica ainda mais evidente após a alguma descoberta científica ou durante um evento astronômico, como um eclipse ou a passagem de um cometa.

 

Às vezes, mesmo quem tem boas intenções acaba atrapalhando como aconteceu às vésperas do último eclipse lunar deste 15 de abril de 2014, um fenômeno absolutamente normal e conhecido a milhares de anos é divulgado de forma mística e errônea.

 

Um dos piores exemplos foi o caso do repórter da Globo News que divulgou a notícia de forma absolutamente errônea e equivocada. Ao contrário do que era de se esperar de uma emissora de um canal pago, ficou evidente que não houve nenhuma assessoria de um astrônomo, já que o repórter não demonstra conhecimento algum do assunto, chegando a dizer bobagens absurdas, tanto que o vídeo foi retirado do ar dois dias depois, mas publicado no Youtube.

 

Entre as calamidades ditas pelo repórter estão as seguintes:

 

- a Lua teria  ficado vermelha depois do eclipse por que estava entre o planeta Marte e a estrela Espiga da constelação de Virgem.

A Lua fica avermelhada durante o eclipse por que ela não fica totalmente escura. A luz do Sol é desviada e filtrada pela atmosfera da Terra que espalha as outras cores mas, deixa passar o vermelho, um fenômeno conhecido dos ópticos, físicos e astrônomos já há muito tempo.

 

O planeta Marte é avermelhado por que seu solo é muito rico em dióxido de ferro (ferrugem) e não tem, absolutamente, nada a ver com a vermelhidão do eclipse. Apesar de parcer estar em uma direção, no ceú, aparentemente próxima da Lua, Marte está, na verdade, a mais de 90 milhões de quilômetros de distância.

 

- a Lua foi ocultada pelo Sol

De que forma, eu pergunto, o Sol poderia ocultar a Lua olhando-se a partir da Terra? O Sol tem 1.300.000 quilômetros de diâmetro e a maior distância entre a Terra e a Lua chega a 400.000 quilômetros, ou seja, o Sol é 3 vezes maior que a maior distância entre a Terra e a Lua. Além disso, o Sol está 150 milhões de quilômetros de distância da Terra. Mais ainda, o Sol é uma fonte de luz! Como um corpo luminoso poderia escurecer um outro?

 

- “um fenômeno conhecido como lua sangrenta”

O termo "lua sangrenta" foi largamente usado neste eclipse em referencia à cor da Lua durante o eclipse. Este termo, provavelmente deve-se à crença de alguma tribo primitiva e há inúmeros mitos a respeito. De fato, a cor avermelhada deve-se a um fenômeno óptico já explicado acima. O fenômeno é tão conhecido que astrônomo André-Louis Danjon criou uma escala para classificar o obscurecimento durante um eclipse lunar. A escala vai de 0 a 4 e é chamada de Escala de Danjon.

Outra frase muito ouvida ultimamente é que “a rara sequencia de 4 eclipses totais lunares seguidos antecede o fim do mundo”, o que está correto. Bem, quase.  Esta sequencia de 4 eclipses totais lunares, chamada de tetrad, não é um fenômeno tão raro assim. Oito séries ocorrerão apenas ao longo deste século:

 

  • 2003 - 2004

  • 2014 - 2015

  • 2032 - 2033

  • 2043 - 2044

  • 2050 - 2051

  • 2061 - 2062

  • 2072 - 2073

  • 2090 - 2091

 

A parte correta é que o mundo não acabou antes “deste” tetrad. Veja que a frase diz “antecede” e não “causa”. Além disso, é necessário definir o que seria o “fim do mundo”. Seria o fim da humanidade? O fim da Terra ou o fim do Sol que deve ocorrer daqui a uns 6 bilhões de anos?

 

Para este e qualquer outro evento astronômico fica a lição que nós astrônomos, amadores e profissionais, sempre repetimos, não acreditem em nada do que ouvirem ou lerem. Pesquise, duvide, conteste e procure alguém que sabe o que está falando.

Se quiser informações confiáveis a respeito de eclipses, procure a fonte mais confiável, visite a página de Fred Spenak.

 

Céus!!! Faltou explicar o que é um eclipse. Quando andamos anda na rua, num dia ensolarado, produzimos um eclipse.

Aliás, fique atento, pois em setembro (28) teremos um eclipse lunar e o auge do eclipse ocorre sobre 
o Brasil, ou seja, a totalidade ocorre quando a Lua estiver próxima do seu ponto mais alto no céu. Mais detalhes
aqui.

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