Água em Marte e o porta-aviões

Ilustração da MRO em órbita de Marte

Recentemente a NASA anunciou a descoberta de água em Marte. Nas redes sociais choveram críticas dizendo que estavam desperdiçando recursos procurando água em outro planeta quando deveriam procurar na Terra e este é apenas mais um caso de crítica do uso de recursos em pesquisas em outros planetas, enquanto dizem que deveríamos usar estes recursos para resolver os problemas aqui da Terra. Principalmente se levarmos em conta o custo de U$720 milhões da Mars Reconessaince Orbiter que foi 'quem' fez a descoberta.

No entanto, não houve reclamações quanto aos quase U$6 bilhões gastos na Guerra do Golfo ou quanto ao porta-aviões USS Gerald R. Ford (CVN-78) que custou US$ 12,8 bilhões além dos US$4,7 bilhões gastos no seu desenvolvimento. Sem contar os custos com operação, manutenção, tripulação, armamentos, munição e combustível, etc.

Diante disso, o gasto com a MRO é "troco de bala", e há alguém que possa mostrar quais benefícios uma guerra pode trazer à humanidade? Ou ainda, benefícios proporcionais aos gastos?

A resposta é simples, não faltam recursos, água ou comida, na Terra, eles só estão mal distribuídos. A falta de água é mais um fator humano do que natural. Na África, por exemplo, a falta de comida é causada, em sua maioria, por conflitos étnicos, religiosos, por disputas de poder ou pelos famigerados "diamantes de sangue".

Boa parte das pesquisas em outros planetas reflete-se em avanços aqui na Terra. Além disso, incontáveis pesquisas da NASA e das diversas agencias de pesquisas espaciais revertem-se diretamente em avanços na saúde e segurança humanas.

Imagem da Cratera Gale feita pela MRO

A NASA desenvolveu métodos de reaproveitamento de água pelos astronautas que incluem o uso de uma bactéria que funciona como bio-reator. Um dos pesquisadores está desenvolvendo uma forma mais saudável de bebidas que utilizem açucares. A pesquisa leva ao desenvolvimento de produtos orgânicos e pró-bióticos que reduzem inflamações e ajudam na digestão de portadores do vírus HIV. Além disso há inúmeras outras como:

- o desenvolvimento de suplementos multi-vitamínicos anti-oxidantes derivados de vegetais; - o robôs enviados para Marte levaram ao desenvolvimento da inteligencia artificial. Um estudante do MIT desenvolveu um robô para ser utilizado em hospitais que, além de monitorar sinais vitais dos pacientes, locomove-se sozinho pelos corredores dos hospitais; - eletrodos e sensores que controlam sinais vitais; - o desenvolvimento de lentes de telescópios levou a equipamentos utilizados no diagnóstico de doenças oculares; - um fluido não-tóxico e bio-degradável utilizado para derreter o gelo em asas de avíões e evitar o congelamento de chaves em trilhos ferroviários; - um sistema de manutenção dos ônibus espacial utilizado em aeronaves comerciais que diminui os custos e aumenta a segurança;

-sistema de reconhecimento de voz que permitem aos pilotos comunicar-se com os sistemas de GPS das aeronaves dez vezes mais rápidos que a digitação aumentando a segurança em vôos comerciais. O sistema foi certificado pela FAA em 2009 e começou a ser utilizado em pequenas aeronaves a partir de 2011.

A civilização humana deve seu desenvolvimento à ciência e, em particular, à Astronomia, que teve um papel central no desenvolvimento da agricultura, dos calendários, da escrita e da matemática. Foi importante na orientação de viajantes e, até hoje, a navegação utiliza o céu.

Foram os astrônomos que colocaram milhares de satélites no espaço que são dedicados às telecomunicações; o GPS (Sistema Global de Posicionamento); o monitoramento de queimadas e desmatamentos; a meteorologia, que salva milhares de vidas todos os anos prevendo tempestades e furacões ou a ocorrência de secas ou enchentes evitando prejuízos nas plantações. O mapeamento urbano e o controle de utilização do solo.

As pesquisas em astronomia e astronáutica levaram a uma infinidade de avanços em diversas áreas como medicina, aviação, segurança pessoal, robótica, etc.

A busca pelo conhecimento é auto-justificável. Mesmo quando não são dirigidas, as pesquisas acabam "tropeçando" em alguma descoberta importante. Por exemplo, foram os astrônomos que descobriram os "buracos" na camada de ozônio e o intenso efeito estufa de Vênus que alertou para o aquecimento global aqui na Terra.